Por Ícaro Kropidloski
Entre a década de 1970 e o começo dos anos 2000, era comum que mulheres trans e travestis se submetessem a aplicações de silicone industrial por questões estéticas para modelagem do corpo. Mulheres trans e travestis que se prostituíam nesta época contam que suas cafetinas as obrigavam a realizar estes procedimentos, conduzidos geralmente por pessoas que não eram da área da saúde. O silicone industrial não é um produto médico e não deve ser aplicado no corpo humano em hipótese alguma. Ele é usado, dentre outras coisas, para fabricação de pneus de carro, limpeza e preenchimento de vidros e fixação para materiais a base de tinta. O cirurgião plástico gaúcho Marcelo Tonding é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e respondeu algumas perguntas sobre o tema. Confira:
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Dr. Marcelo Tonding/Reprodução Internet |
Qual é a principal diferença entre o silicone industrial e o silicone para uso estético?
O silicone médico é um material mais seguro, esterilizado e alocado dentro de uma cápsula que o reveste. Ou seja, se houver algum problema ele pode ser retirado com segurança. O silicone industrial é comprado em diversos lugares, para vários fins. Ele não pode ser utilizado como preenchedor pois, em primeiro lugar, ele não é estéril, e, em segundo lugar, ele não está dentro de uma cápsula.
Quais são os principais riscos do silicone industrial para a saúde? O que pode ocorrer a pequeno, médio e longo prazo?
Em um curto prazo de tempo este material pode infeccionar, sendo necessário tratamento medicamentoso e cirúrgico. Em médio e longo prazo podem ocorrer dores e deformidades resultantes da inflamação e da resposta do corpo ao produto.
É fácil, do ponto de vista clínico, resolver inflamações, deformidades e outros problemas causados pelo silicone industrial?
Não é simples. O silicone, assim como alguns produtos aloplásticos como o PMMA, se infiltra nos tecidos. Ele não fica isolado como uma prótese. Em caso de uma infecção é muito difícil retirar o silicone sem retirar tecido sadio junto .
Como o SUS pode ajudar pessoas trans que estão com problemas em decorrência do uso de silicone industrial, existem políticas públicas? Onde estas pessoas devem procurar ajuda?
Desconheço políticas específicas do SUS sobre silicone industrial. No entanto, por lei todo brasileiro tem acesso ao SUS e se tiver algum problema desta natureza deve procurar atendimento. Acesso inicial sempre via posto de saúde ou emergência hospitalar quando se trata de SUS.
Qual principal alerta que você, como profissional da saúde, deixaria para pessoas trans que pensam em recorrer ao silicone industrial?
Não use. Procure bons profissionais. Procure tratamentos seguros. Na região glútea, por exemplo, utilize lipoescultura, implantes glúteos ou ácido hialurônico.Na mama, próteses de silicone. Para face existem diversos tratamentos (ácidos hialurônico, bioestimuladores). Na área da estética procurar somente por baixo preço pode custar caro demais .
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**Este material integra o projeto Saúde e Cidadania Travesti e Transexual, uma parceria do Fórum Black Trans Brazil - Fonatrans com o Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, com recursos do projeto BRA 15/004 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
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