Preconceito, falta de preparo de profissionais e escassez de informações qualificadas afastam pessoas trans dos serviços de saúde e as expõem a tratamentos médicos e estéticos clandestinos e perigosos. Além disso, muitas vezes essa população é invisibilizada em campanhas de prevenção. A falta de informação sobre os riscos de câncer de mama, próstata e colo de útero em pessoas trans, por exemplo, dificulta diagnósticos precoces. Bruna Ravena é militante do movimento trans, integrante do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans) e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e deu um depoimento para o Ministério da Saúde em 2023, sobre a relação de pessoas trans com o Sistema Único de Saúde (SUS). “Como usuária do SUS, já fui tratada com muita dignidade e respeito, mas também existe uma resistência no atendimento para muitas de nós na área ambulatorial. Principalmente quando o serviço é terceirizado”, relata.
Maria Júlia Calas, mastologista e presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) – Regional Rio de Janeiro, coordenou uma iniciativa de revisão de estudos sobre câncer e população trans, publicada na revista científica Mastology. A médica avaliou 38 estudos e notou que 28 apontavam para a baixa frequência de exames preventivos dentro da comunidade LGBTQIA+. Em entrevista para o site Metrópoles, ela explicou que “o preconceito diminui as chances de as pessoas trans terem um atendimento médico digno e, consequentemente, atrapalham o acesso aos tratamentos e diagnósticos no tempo adequado.”
As campanhas Outubro Rosa e Novembro Azul, sobre conscientização dos cânceres de mama e próstata, são iniciativas importantes e contam com apoio da sociedade. No entanto, estas ações possuem um forte viés cisheteronormativo que exclui pessoas trans. As cores escolhidas já revelam o binarismo: Outubro Rosa é visto como “coisa de mulher” e Novembro Azul como “coisa de homem.” Mas o câncer de mama também é assunto de homens trans, pessoas transmasculinas, mulheres trans e travestis hormonizadas e/ou com prótese de silicone. A mastectomia, no caso de homens trans e pessoas transmasculinas, não anula totalmente os riscos de desenvolvimento de câncer de mama, especialmente se a pessoa tiver histórico genético que facilite o desenvolvimento de tumores. Afinal, o câncer não aparece apenas na mama, mas também em glândulas localizadas abaixo das axilas. No caso de mulheres trans, há tipos de tumores que se alimentam de estrogênio e progesterona, hormônios femininos que fazem parte do protocolo de transição. As mulheres trans e travestis também devem ser público-alvo para campanhas sobre o câncer de próstata, assim como homens trans e pessoas transmasculinas devem se preocupar com o câncer de colo de útero. Há que se romper com um pensamento binário, especialmente quando falamos destes tipos de cânceres.
Pensando nisso, a Avon promoveu, entre 15 de outubro e 15 de novembro de 2021, o Mês Violeta, uma provocação publicitária à invisibilidade de pessoas trans nas campanhas tradicionais de prevenção. A cantora Pepita, o criador de conteúdo Jonas Maria e a apresentadora e influencer Bielo Pereira foram porta-vozes de conteúdos educacionais. Além disso, a marca ofereceu, via plataforma própria e de forma gratuita, oito consultas por um ano com profissionais de cardiologia, clínico geral, ortopedia, dermatologia, ginecologia, otorrinolaringologia, pediatria, vascular, psiquiatria, urologia e psicologia, além de fonoaudiologia e nutricionista com valores mais acessíveis, plantão 24h com clínico geral e medicamentos com descontos, para dois mil usuários.
Confira abaixo a Tabela Rápida Sobre Saúde Trans E Prevenção, um resumo, esquematizado pela equipe FonaTrans, como material de apoio para pessoas trans que possuem dúvidas sobre prevenção.
Pé de mulher trans com inchaço causado pelo deslocamento de silicone industrial. Foto: Luara Butielles Nunes/Arquivo pessoal |
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