Primeira cacique trans de MT consegue mudar nome na Justiça: 'quebrando uma barreira'

Majur se tornou cacique no final de 2021, após o pai ser afastado por motivos de doença.



A cacique Majur Traytowu, de 32 anos, a primeira indígena transexual no estado, conseguiu reiterar seu nome na Justiça neste mês. A cacique lidera a Aldeia Apido Paru da Terra Indígena Tadarimana, em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá,

“Estou me sentindo uma pessoa realizada. Diante de tanto preconceito, eu sinto que estamos quebrando uma barreira”, pontuou.

Majur se tornou cacique no final de 2021, após o pai ser afastado por motivos de doença.



Segundo o cacique geral da Reserva Indígena Tadarimana, Cícero Kawdora, a transição de gênero é vista com naturalidade na cultura Boé Bororo.

“Isso já vem desde o fundamental, no tempo do nosso avô já era falado sobre isso (transição), já é normal para nós”, ressaltou.

Além do reconhecimento cultural, indígenas que fizeram a transição de gênero podem ser reconhecidos oficialmente pela Justiça. A retificação dos documentos é realizada pela Defensoria Pública de Mato Grosso.

Para realizar a mudança de nome, indígenas e não indígenas devem procurar o Cartório do Registro Civil e levar os documentos pessoais, principalmente a certidão de nascimento. O processo é gratuito.

Confira os documentos necessários:

Certidão de nascimento

Título de eleitor

Registro Geral (RG)

Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)

Certidões negativas na Justiça Eleitoral, Estadual, Federal e Militar

Certidão de protesto


Quem é Majur



Majur Traytowu contou que se descobrir como transexual aos 12 anos e, aos 27 anos, quando a família fundou a Aldeia Apido Paru, ela passou a ajudar o pai nas tomadas de decisões. Na adolescência, afoi convidada a participar de reuniões, eventos e outros assuntos envolvendo a comunidade.

Em 2017, Majur concluiu o ensino médio e quase dois anos passou em uma prova em Goiânia para cursar fisioterapia e antropologia, e no mesmo período também foi aprovada em um processo seletivo para agente de saúde indígena.

"Ou eu me mudava para a cidade fazer faculdade ou ficava para cobrir a vaga de posto de Agente Indígena de Saúde (AIS). Decidi ficar e trabalhar para estar mais perto do povo. Hoje tenho mais de três anos como agente e agora também assumo o posto de cacique da minha aldeia", contou.

Os caciques são escolhidos por votação que, geralmente, acontece a cada dois anos. No entanto, Majur assumiu a liderança da aldeia, oficialmente, logo após o afastamento do pai, sem eleição. Os demais indígenas, segundo ela, aceitaram, sem questionamentos.

Fonte: G1

Comentários