Jovem trans diz que foi constrangida pela Polícia Militar em Serra Talhada

Uma jovem transexual afirmou que foi constrangida durante abordagem da Polícia Militar na Praça da Estação do Forró, na terça-feira (14), por volta das 21h40. Em conversa com o Farol de Notícias, Cecilia Nogueira, 22 anos, moradora do bairro Ipsep, deu detalhes de como aconteceu a abordagem dos PMs que questionaram sua identidade de gênero e sua sexualidade.

Segundo o relato da serra-talhadense, ela estava com mais alguns amigos jogando no espaço público quando a viatura policial chegou e anunciou a revista. Seus amigos atenderam o comando de levantar e colocar as mãos na cabeça. Acostumada a ser revistada apenas por agentes femininas, a jovem virou as costas e aguardou. Mas em seguida foi impelida a ser submetida a ação policial.

“O policial me mandou colocar a mão na cabeça e eu coloquei. Mas até então eu estava sem acreditar que um policial masculino ia me revistar eu sendo trans. Quando ele se aproximou eu perguntei se ele iria mesmo me revistar, e ele me perguntou se eu era homem, eu afirmei que sou travesti. Eu me visto como mulher, tomo hormônio, tenho seios e tudo mais”, justificou Cecília Nogueira, continuando:

“Ele me perguntou: você cortou [o pênis]? E eu respondi que não, e ele então falou que eu era homem e começou a passar a mão em mim. Eu fiquei muito desconfortável, e perguntei a ele o que é que tinha a ver eu ter cortado ou não. E o policial me perguntou também se eu gostava de homem, e eu novamente o perguntei o que era que tinha a ver uma coisa com a outra. Ele repetiu que eu era homem e continuou a abordagem. Eu fiquei muito constrangida e desconfortável”, finalizou.

O QUE DIZ A LEI?

O Farol conversou com Jonatan David, bacharel em Direito e pesquisador dos direitos de travestis e transexuais. Ele alerta que casos de transfobia como estes sofridos por Cecília são analisados em duas circunstâncias: do ponto de vista particular e coletivo. E em cada um desses casos há um tratamento diferente a ser dado pela vítima.

“Se atingir apenas uma pessoa, ela precisa ir até a delegacia e lavrar um boletim de ocorrência. Mas se a transfobia atingir uma coletividade existe a Sala de Atendimento ao Cidadão no Ministério Público, onde essa pessoa pode protocolar uma denúncia”, explicou.

O Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo. Segundo o projeto internacional Trans Murder Monitoring (TMM) de 2008 a setembro de 2022 o total de assassinatos de trans no mundo foi 4.639. O Brasil é o primeiro colocado, responsável por 37,5% (1.741) de todas as mortes.

OUTRO LADO

A reportagem do Farol de Notícias entrou em contato com o 14º Batalhão de Polícia Militar via e-mail para ouvir o posicionamento do comando sobre o caso, mas até o momento não obtivemos resposta.

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