'Há diversos setores na sociedade que não nos reconhecem como mulher', diz Duda Salabert, uma das primeiras transexuais a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional

Para deputada, Dia Internacional da Mulher é data importante para debater desigualdades. Por outro lado, parlamentar denuncia que 8 de Março ainda gera discurso de ódio contra mulheres trans.



Professora de literatura há 20 anos e mãe, Duda Salabert (PDT-MG), de 41 anos é uma das primeiras mulheres transexuais a assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados. Além dela, a deputada federal Erika Hilton (PSOL) foi eleita pelo estado de São Paulo.

Ao g1, Duda diz que o Dia da Mulher é importante para promover debates sobre desigualdade de gênero. Mas, enquanto mulher trans, ela vê o 8 de Março como um dia de reflexão.

"É um dia que a gente sofre muita violência. Há diversos setores na sociedade que não nos reconhecem como mulher. É uma data que a gente recebe muito discurso de ódio”, diz Duda Salabert.

Segundo o relatório de Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras, da Associação Nacional de Travesti e Transsexuais, em 2022 foram assassinadas 131 travestis e mulheres transexuais. O DF ocupa a 21º posição, com dois casos.

Um 'corpo político'

Duda Salabert foi eleita, no ano passado, deputada federal por Minas Gerais com 208.332 votos, sendo considerada a mulher mais votada da história do estado para o cargo. Antes de concorrer a uma vaga no Congresso Nacional, Duda foi a vereadora mais votada de Belo Horizonte, capital mineira.

"A vitória não é minha. Foi uma vitória dos direitos humanos, vitória de movimentos e organizações que lutam pela diversidade na política, nos espaços de poder", diz Duda.

A política acompanha a professora Duda Salabert desde a adolescência. Ela conta que sempre participou de grêmios estudantis, diretórios acadêmicos, movimentos de luta LGBTQIA +. Em 2016, decidiu entrar para a política partidária para "ajudar a construir o projeto de país que acredita”.

"Já fazia política e, desde que comecei a transição, meu corpo é político. Eu acredito que a política é a principal forma de transformação da sociedade. Sou romântica e utópica e acredito que temos que estar na política para a mudança."

Ameaças e transfobia

A trajetória de Duda Salabert para ocupar uma cadeira no Congresso Nacional não foi fácil. Durante a campanha eleitoral, em 2022, tomou conhecimento e denunciou 15 ameaças contra ela e a família em um período de 45 dias. Uma média de uma ameaça a cada 3 dias, entre e-mails, cartas e até a criação de um site.

"O maior desafio é sempre se manter viva. O ataque não era só contra mim, era contra o que eu represento. Um ataque à democracia, porque quando você ataca uma candidatura isso dificulta o processo eleitoral.”

Para a proteção da então candidata, a campanha teve que reservar uma fatia considerável do orçamento para a segurança. O carro era blindado, ela tinha que andar com escolta e segurança particular.

Duda também teve que comprar um colete à prova de balas, "acessório" que usou para votar no dia 2 de outubro do ano passado.

Na visão de Duda Salabert, o Congresso Nacional ainda é um ambiente conservador e ela procura espaço junto ao executivo para as pautas que defende: meio ambiente, educação e direitos humanos. Para a deputada, os últimos anos mostraram um legislativo hostil e que, apesar da renovação, ainda permanece um ambiente difícil.

"É importante que o Congresso, apesar de ser conservador, tenha o desafio de construir políticas públicas que enfrentem a desigualdade de gênero no país. Há muito o que se construir e o Legislativo não pode se esquivar de debates importantes para as mulheres. É importante também reconhecer a urgência de políticas públicas para mulheres transexuais e travestis."

Fonte: G1

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