O Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros - FONATRANS emitiu um Manifesto Público denunciando o estado do Piauí por não implantar, promover políticas públicas para a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos - LGBTI+. O Piauí já foi considerado pioneiro em políticas eficazes de enfrentamento e combate à LGBTIfobia. Hoje, segundo o FONATRANS, patina na lanterninha do Nordeste, sendo o que menos investe em políticas para essa população.
Jovanna Baby, Presidenta do FONATRANS |
"Nos dá vergonha de falar do Piauí no que tange ao poder público quando estamos participando de intercâmbios no Brasil e fora dele. Não temos nada a apresentar do nosso estado que tenha atravessado os corpos LGBTI+. É uma realidade muito doída, o Governo Estadual coopta alguns ex ativistas e deposita neles o lugar de fala do Movimento Organizado e isso provoca atravessamentos negativos e ruins à nossa população", afirma Jovanna Baby, Presidenta do FONTRANS. Segue abaixo a íntegra do Manifesto:
MANIFESTO PÚBLICO DENUNCIANDO A
FALTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A POPULAÇÃO LGBT NO ESTADO DO PIAUÍ
Segundo pesquisa da Aliança Nacional LGBT, o Piauí é
o oitavo estado mais violento para a População LGBTQI+.
O Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros, com sede
nacional na macrorregião de Picos/PI, manifesta publicamente seu
descontentamento com a falta de políticas públicas para a população LGBTI+ na
gestão pública do estado do Piauí.
Em passado recente, o Piauí se notabilizou por ser um dos Estados do Brasil com mais ações afirmativas e políticas públicas de promoção da cidadania de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – LGBTI+. Entretanto, nos últimos tempos, houve uma precarização (ou mesmo o desfazimento) dessas políticas em nosso Estado, resultando no aumento de mortes e outras violências contra a população LGBTI+ do Piauí, estimada em mais de 320 mil pessoas. Por certo, este fato nega o discurso do atual Governador, que tem propalado ser uma das prioridades de sua gestão “não deixar ninguém para trás”.
A prova de que os 320 mil LGBTI+ que vivem em solo piauiense têm sido
excluído das ações governamentais pode ser ilustrado com exemplos:
- INEXISTÊNCIA
de recursos para políticas públicas de promoção da cidadania LGBTI+;
- INEXISTÊNCIA
de ações de enfrentamento à violência LGBTIfóbica;
- Ausência de
diálogo com as organizações da sociedade civil, posto que há o errôneo
entendimento de que ex-ativistas que estão servidores atualmente falam pelo
movimento político social organizado;
- Desativação do Conselho Estadual de Direitos da População LGBTI+;
A fim de que o Piauí retome seu lugar de protagonismo na promoção da cidadania da população LGBTI+, o Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros – FONATRANS, elenca abaixo algumas medidas que reputa necessárias e urgentes.
MEDIDAS URGENTES
❖
Reabilitação o Conselho Estadual LGBTI+;
❖
Realização da 4° Conferência Estadual LGBTI+;
❖
Garantir o funcionamento do “Tripé da Cidadania LGBTI+” no âmbito
Estadual,
compreendendo: o Conselho Estadual LGBTI+; o Plano estadual LGBTI+ (com
orçamento); e a Superintendência Estadual LGBTI+ (com equipe e orçamento,
dentro da estrutura do Governo), inclusive com propositura de Leis / Decretos
da autoria do Governo para a criação do Tripé;
❖
Construção de uma Política de Editais transversalizados entre as Secretarias de
Estado, garantindo incentivos para as entidades LGBTI+, respeitando o histórico
das Instituições e garantindo oportunidade às novas Entidades;
❖
Criar, propor, elaborar orçamento específico para promoção da Cidadania LGBTI+
(dotação orçamentária no PPA, LDO e LOA para políticas públicas LGBTI+),
criando também instrumentos transparentes de execução orçamentária das
políticas;
❖ Criar as Coordenações Regionais de Promoção dos Direitos LGBTI+ com o cargo de Coordenador e Assessoria nos municípios polos Picos, Parnaíba, São Raimundo Nonato, Floriano e Bom Jesus.
SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA
❖
Propor, criar e implementar uma rede de prevenção e proteção contra a
discriminação e a violência para com pessoas LGBTI+, com financiamento estadual
de equipamentos de referência e casas de apoio nas regionais de planejamento do
Estado.
❖
Fortalecer, ampliar e interiorizar a Delegacia de Direitos Humanos e de
Condutas Discriminatórias;
❖
Construir parcerias com as Universidades, através de laboratórios de pesquisas,
fomentando áreas de estudos nas temáticas, como também, criação de laboratórios
de estudos e observação do fenômeno violento que é a LGBTIfobia no Piauí e
consultorias. Garantir também através desses diálogos cursos de formação na
temática em parceria com a sociedade civil organizada;
❖
Fortalecer no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Piauí o
diálogo com a sociedade civil organizada, principalmente do interior, para
ajudar a elucidar possíveis casos de LGBTIfobia, preveni-los e educar essa
população, reconhecer e acompanhar LGBTIcídios;
❖
Garantir formações continuadas em parceria com a sociedade civil organizada
para as forças policiais do Estado no sentido do enfrentamento a LGBTIfobia;
SAÚDE
❖
Regulamentação da Política de Saúde Integral da População LGBTI+;
❖
Regulamentação e ampliação do ambulatório do processo Transexualizador no
Piauí, com criação de pontos de apoio para populações Trans oriundas das
macrorregiões do estado;
❖
Garantir capacitações continuadas para os profissionais das policlínicas e
hospitais do Estado no atendimento a população LGBTI+ no sentido do
enfrentamento a LGBTIfobia;
❖
Criação de Comitê Técnico de Saúde Integral LGBTI+ para revisão e
acompanhamento da política, bem como a retomada do credenciamento de
ambulatórios trans com a participação de governo e sociedade civil;
❖
Propor, criar e implementar rede de atenção à saúde da população
LGBTI+, em
especial de referência e contrarreferência na saúde das pessoas trans,
travestis e intersexuais, conforme as diretrizes da Política Nacional de Saúde
Integral da População LGBTI;
❖
Intensificar e mobilizar os esforços de todos os atores interessados para
prevenção e assistência ao HIV e da Monkeypox (nova varíola), com especial
enfoque nos jovens gays e homens que fazem sexo com homens;
❖
Mais ênfase no ano de 2023 a Ampliação do PREP (Profilaxia Pré Exposição) e a
PEP (Profilaxia Pós Exposição) nos postos de saúde das cidades interioranas do
Piauí, garantir também tratamento de Sífilis via oral para pessoas trans.
❖
Garantia de editais com incentivo financeiro para promoção e ampliação da
prevenção combinada e quebra do estigma das pessoas vivendo com HIV;
❖ Reestruturar os editas e parceria através de termo de fomento entre a SESAPI/Coordenação de Doenças Transmissíveis e a Sociedade Civil Organizada para prevenção e enfrentamento e apoio ao HIV/Aids e a promoção dos direitos humanos.
PROTEÇÃO SOCIAL
❖
Reestruturar o Centro de Referência LGBTI+ da Capital, bem como interiorizar
essa política, implantando Centros de Referência nos municípios polos;
❖
Realizar linhas de financiamento público para iniciativas da sociedade civil de
enfrentamento a discriminação e a violência contra LGBTI+ e de promoção da
cidadania dessa população;
❖
Inclusão do público LGBTI+, com enfoque nas mulheres LBTI, em situação de
vulnerabilidade em programas sociais;
❖
Garantir a população LGBTI+, em situação de vulnerabilidade, dentro dos
programas estaduais de combate à fome e políticas assistenciais e de segurança
alimentar;
❖
Criação e fomento de políticas de habitação voltadas a pessoas Trans;
❖ Editais e políticas de apoio financeiro à instalação de casas de acolhimento em nível estadual, regional em parceria com a sociedade civil organizada nas cidades polos;
EMPREGABILIDADE
❖
Criação de projeto piauiense voltado à empregabilidade da população Trans, que
envolva formação e renda, a exemplo do Projeto Damas do Rio de Janeiro e
TransCidadania de São Paulo;
❖
Vagas dentro das empresas estatais estaduais e contratadas (jovem aprendiz)
para população LGBTI+, com cotas específicas para pessoas Trans;
❖
Fortalecer projetos regionais de fomento ao emprego, a exemplo do Protrans
Ceará;
❖
Estabelecer parcerias com entidades SINE IDT para banco de dados para pessoas
Trans e, especialmente, mulheres LBTI;
❖
Incentivo fiscal, a partir de dedução de impostos, para empresas que contratam
pessoas transexuais, travestis e homens trans;
❖ Fortalecimento e criação de projetos que fortaleçam o empreendedorismo LGBTI+ no Estado do Piauí, a exemplo das feiras empreendedoras LGBTIs do Pará, bem como criação de cursos na área do empreendedorismo;
EDUCAÇÃO
❖
Garantir educação pública e de qualidade, pautada nos marcos normativos da
Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Aplicando as disposições da Lei 13185/2015 (Institui o Programa de Combate à
Intimidação Sistemática (Bullying);
❖
Garantir a defesa do Estado Laico, Democrático e de Direito;
❖
Promover e fomentar eventos, seminários e audiências públicas para debater a
promoção da cidadania das pessoas LGBTI+;
❖
Construir uma educação cada vez mais inclusiva, dinâmica e que dê conta de
respeitar a diversidade humana em suas mais variadas formas;
❖
Fortalecimento da política de nome social nas escolas e Instituições de
Ensino Superior
do Piauí, oferecendo capacitação e formação sobre o tema para os gestores
escolares e universitários sempre com a participação da Sociedade Civil
Organizada;
❖ Criação de cotas e políticas afirmativas de inserção de pessoas Travestis, transexuais e homens trans nas Instituições de Ensino Superior do Estado do Piauí;
CULTURA
❖
Fomento a eventos alusivos às datas simbólicas LGBTI+ e eventos realizados por
movimentos sociais LGBTI+ de visibilidade massiva, tais como paradas,
caminhadas, desfiles e marchas;
❖
Incentivo a uma política pública de cultura voltada para a população LGBTI+;
❖
Promover e fomentar campanhas de conscientização sobre orientação sexual e
identidade de gênero;
❖
Criar Editais com recursos de contenham as temáticas da diversidade e cidadania
LGBTI+ da Secretaria de Cultura do Piauí-SECULT;
❖
Criação e fomento de políticas afirmativas e cotas para pessoas transexuais,
travestis e transgêneros nos editais de cultura promovidos pela Secretaria de
Cultura do Piauí (SECULT);
❖ Descentralizar o apoio da SECULT/PI às Paradas LGBTI+ interiorizando esse apoio para as cidades polos do Piauí com recursos próprios do estado;
TURISMO
❖
Colocar como Rota e Atrativos Turísticos as Paradas LGBTI+ realizadas no
Estado, tais como Teresina, Picos, Oeiras e Parnaíba, visto que as mesmas
acontecem nessas cidades e atrai diversos turistas de todas as partes do
Brasil, lotando hotéis, bares e restaurantes por ocasião do evento;
❖ Promover os pontos turísticos do estado do Piauí internacionalmente para a comunidade LGBTI+ como rota turística relevante, tendo em vista que pesquisas recentes de vários institutos comprovam que esse público movimenta financeiramente as cidades onde escolhem suas atividades turísticas.
CARGOS DA PAUTA LGBTI+ NA GESTÃO
❖ Que sejam nomeados gestores com capacidade técnica de gerir a política pública voltada para a população LGBTI+ que insira a pauta no PPA, LDO e LOA, que disponibilize recursos para editais de projetos para fomentar parcerias com a sociedade civil organizada no enfrentamento a toda opressão.
Picos-PI, 01 de Fevereiro de 2023
Jovanna Cardoso da Silva
PRESIDENTA
DO FÓRUM NACIONAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS NEGRAS E NEGROS - FONATRANS
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