No Piauí ninguém chora por nós. É mais fácil sepultar os nossos corpos.



Por Jovanna Baby

TRAVESTI, mais uma que tomba no Piauí assassinada com requintes de crueldade. Abandonada pelo estado, ainda que seja uma cidadã maranhense, mas era em Teresina que ela residia. Cabia ao estado Piauiense a assistência e a garantia da vida dessa vítima cruel do abandono, da omissão e do patriarcado oligárquico que gerencia esse estado a 20 anos. O mais repugnante é ver o estado do Piauí se mobilizando para encontrar a família e a direção do corpo para ser sepultado, mas esse mesmo estado não fez nada para a educação, profissionalização e segurança dessa TRAVESTI. 

O mais cruel é perceber que nossas vidas nesse estado violento, segregador e omisso são valorizadas pelo seu voto político partidário colocado nas urnas no período eleitoral. Há de se perceber que as pessoas que ocupam os cargos criados para agradar a alienação LGBT do front da oligarquia estadual que estão lá a cerca de 20 anos sem nada de concreto que impacta a vida  das/dos corpas/corpos trans. Zero política de educação, zero política de empregabilidade, zero política de garantia de vida, zero política de segurança, zero política de cultura. Zero tudo. 

Não há nada nesse estado que mude a realidade cruel do cotidiano das pessoas trans. Até concordamos que a Secretaria de Segurança Pública do Estado tem boa intenção com a recém criada Coordenação de Políticas de Segurança para LGBT, ainda engatinhando, mas antes da segurança precisamos de educação, saúde, emprego e renda, dentre outros. Pior disso tudo são ditos gestores da causa LGBT que toma tudo e todas as críticas para eles, não entendendo que os questionamentos são ao estado e não ao gerente. 

Infelizmente quem está à frente dessa Gerência, seus salários são pagos também pelos nossos impostos que dispensamos até em um preservativo de látex quando compramos na farmácia. O Piauí é o estado mais injusto e antissocial dentre todos, inclusive os de extrema direita onde, pelo ao menos, há o diálogo. Aqui, nem isso tem. O estado acredita que as imperecíveis figuras colocadas por meritocracia partidária representam o segmento social e, na verdade, essas pessoas não tem sequer respaldo para falar por nós que somos organizadas e reconhecida nacional e internacionalmente. 

É dolorido ter certeza que a vida de uma TRAVESTI são trocadas por DAS, DAM e DAI na alçada da administração do estado. Pior ainda é perceber que os donos do Piauí vão passando de mão a mão dentro do seu círculo partidário e, pior ainda, é perceber que são pessoas preocupadas com partido, com as causas partidárias, com as candidaturas dos próximos pleitos e com a visibilidade "positiva" de quem gerencia o estado sem nenhuma  hombridade, sororidade e empatia. Para essa gente, não importa a vida de uma TRAVESTI aviltada, abandonada e assassinada porque no final de tudo eles vão lá articulam o sepultamento e vomitam pra sociedade que isso é política pública. 

Por fim, deixo aqui algumas pergunta: Quantas TRAVESTIS o estado do Piauí garantiu educação? Quantas TRAVESTIS o estado do Piauí profissionalizou? Quantas TRAVESTIS o estado do Piauí inseriu no mercado de trabalho? E por fim, quantas TRAVESTIS têm sua vida em segurança no estado do Piauí?

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