Desembargador do TJ-SP afirma que "transexual não é mulher" e não podem recorrer à Maria da Penha


Na esteira de uma decisão inovadora do Supremo Tribunal Federal (STF) de equiparar ofensas contra indivíduos LGBTQIA+ a insultos raciais, uma declaração de um Juiz do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo incendiou uma controvérsia intensa. Francisco José Galvão Bruno, desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo, afirmou que "transexuais não são mulheres," acrescentando que o conceito de mulheres foi estabelecido cientificamente há muito tempo. Essa afirmação veio apenas um dia após a histórica decisão do STF.

A decisão do STF, anunciada na segunda-feira (21 de agosto), marcou um passo significativo no reconhecimento da discriminação contra a comunidade LGBTQIA+. O tribunal determinou que insultos e ofensas dirigidos a indivíduos LGBTQIA+ devem ser tratados como crimes de injúria racial, alinhando-se à interpretação do tribunal de que tal discriminação compartilha semelhanças com preconceito racial.

Numa reviravolta surpreendente, os comentários do Juiz Galvão Bruno contradisseram o espírito da recente evolução legal. Ele afirmou: "Com todo o respeito aos homossexuais e transexuais, um transexual não é uma mulher. Isso é um ultraje às mulheres, afirmar que transexuais devem ser incluídos na Lei Maria da Penha. É absurdo." Ele prosseguiu afirmando que mulheres já foram definidas cientificamente há muito tempo e criticou a tentativa de alterar essa compreensão.

No entanto, seus comentários revelaram desconhecimento sobre os detalhes da decisão do STF e suas implicações. A decisão não dizia respeito à Lei Maria da Penha, que já teve sua aplicação estendida a mulheres trans com base em interpretação legal em 2022.

A decisão, apoiada por nove ministros do STF seguindo a liderança de Edson Fachin, ampliou a compreensão de injúria racial para abranger ofensas contra indivíduos LGBTQIA+. Em 2019, Fachin enfatizou que o STF não exclui a aplicação das leis anti-racismo a atos discriminatórios contra membros LGBTQIA+. Ele esclareceu que é um imperativo constitucional considerar a discriminação com base na identidade de gênero e orientação sexual como uma forma de discriminação racial.

A visão de Fachin destacou: "Considerando que a injúria racial constitui uma forma de racismo, e que a discriminação com base na identidade de gênero e orientação sexual pode ser equivalente ao racismo por raça, atos de homotransfobia poderiam de fato ser considerados crimes de injúria racial."

Enquanto a decisão do STF foi comemorada por defensores dos direitos LGBTQIA+ como um passo crucial rumo à proteção legal inclusiva, a declaração do Juiz Galvão Bruno levantou preocupações sobre a potencial propagação de visões desinformadas e discriminatórias dentro do sistema judicial. O incidente destaca a contínua necessidade de educação e conscientização para promover um ambiente legal equitativo e respeitoso para todos os indivíduos, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual.

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