Travessia: conheça Britney Federline, primeira diretora trans da TV Globo

Antes caracterizadora, a profissional conta com quase 20 anos de carreira no audiovisual



São 17 anos que separaram a caracterizadora Britney Federline, que se iniciou no ofício na prestigiada Casa de Cinema de Porto Alegre, da diretora Britney Federline, cujo nome é um dos que encabeçam os créditos de direção de Travessia. Mas a mudança de profissão trouxe a ela um pioneirismo, uma marca definitiva na teledramaturgia nacional: se tornou a primeira diretora trans da TV Globo.

“Tenho 39 anos. Nossa, como eu estou velha!”, diz, aos risos, ao relembrar da jornada. Mas, logo em seguida, contextualiza sobre a dura realidade encarada por pessoas transsexuais no país. “Não sei (se tenho muita carreira pela frente). Sou uma sobrevivente. A expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos. Já superei a média”, relembra. De fato, os números procedem, de acordo com o último relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).


A própria afirma que, apesar de ter continuado no audiovisual, não são comuns os casos de transição de carreira como o dela, principalmente quando se é um nome já estabilizado. Dirigindo desde 2020, Britney já era chefe de caracterização e participou de alguns projetos premiados, como “Deserto Particular”, filme de Aly Muritiba que representou o Brasil na corrida por uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, e da série “Doce de Mãe”, da mesma emissora que hoje trabalha, estrelada por Fernanda Montenegro e vencedora do Emmy Internacional de 2015.

“Comecei na novela como assistente de direção. Enquanto eu me familiarizava com toda a estrutura, fiquei na função de assistente do André (Barros), diretor geral da novela. Quando começou o núcleo das drags, assumi a direção”, recorda a gaúcha.

A trama em questão é centrada no enfermeiro Wesley, personagem de Gero Camilo, que contrata Brisa (Lucy Alves), a protagonista da obra, para trabalhar com ele. Às noites, Wesley é Lucía del Mar, drag queen, que faz shows na boate fictícia, situada no bairro de Vila Isabel, Zona Norte carioca, que ainda conta com a participação de nomes como o de Divina Valéria.

“Eu tinha uma carreira muito estável, mas eu tinha vontade de ocupar outro lugar, e não sabia se era no roteiro ou na direção. Comecei a estudar. (...) Sei que estou muito feliz e muito surpresa. Vou embora (dos Estúdios Globo) todos os dias muito feliz. Coisa que não acontecia muito quando eu era caracterizadora. Estou me realizando.”

Além do tema queer

Na hora de comentar a relevância do papel que ocupa na novela, Britney ainda destaca o fato de não estar reservada às cenas do núcleo queer – termo utilizado para representar o público de minorias sexuais e de gênero.

“O Mauro (Mendonça Filho, diretor artístico da novela) está me colocando para dirigir outras coisas da novela, além do núcleo da boate das drags. E isso é muito especial também. Isso me mostra como o Mauro é atento porque não me limitou a um núcleo. Dirijo cenas com o Chay (Suede), com o (Marcos) Caruso. Estou encabeçando a boate, mas ele está me colocando em outros núcleos para dirigir, porque, no fim das contas, ser diretor é poder falar sobre tudo e não só de um determinado assunto.

Cena marcante

“A cena da boate, em que o Wesley, personagem do Gero, coloca o salto pela primeira vez. Acho muito especial esta cena, porque tem toda uma transição na qual ele está com um sapato masculino e coloca um salto pela primeira vez. Tentei ter o olhar mais delicado possível para fazer essa transição. Pensei em ele ser seduzido pelo salto, como se tivesse outra pessoa ali, que, a partir do momento que ele colocasse, iria começar a ser. O Gero é muito especial.”

Fonte: G1

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