Keila Simpson é a primeira travesti nomeada Doutora Honoris Causa no Brasil

 A nomeação se dá quando uma universidade deseja entregar um título de honra para uma personalidade pela importância do trabalho dela



Keila Simpson, ativista LGBTQIA+ e presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) alcançou o feito histórico de se tornar a primeira travesti em vida a receber o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A honraria é atribuída por universidades a personalidades que se destacaram devido a suas contribuições à cultura, educação ou humanidade.

Em entrevista ao site da TV Cultura, Keila diz o quanto se sente feliz com o título e relembra quando não conseguiu concluir seus estudos por ser trans.

“É um título que me deixa honrada de receber porque eu fui expulsa da escola quando eu fazia o primeiro ano do segundo grau e não conseguia concluir meus estudos. A escola vai se fechando na piadinha, ela vai se fechando na falta de sociabilidade, no isolamento, na visão que os professores que não conseguiram enxergar dimensão daquela violência e tratava como uma coisa natural e isso vai dando as possibilidades da pessoa compreender que aquele espaço não é para ela”, diz Keila.

“Se a escola não tivesse sido tão nociva para mim naquele período, talvez hoje eu tivesse o título de doutora por méritos de estudos que eu não ia interromper. Mas continuei estudando como autodidata”, afirma.

De acordo com a ativista, o movimento social deu uma bagagem grande na sua vida mas ressalta que seu trabalho na prostituição que deu tudo que ela sabe.

“Eu reconheço que foi lá que eu aprendi, na convivência diária com os clientes, nos assuntos que a gente tinha lá para fazer, nas discussões que a gente trabalha e nos encontros porque ali era uma escola de conhecer pessoas diferentes, de diferentes classes sociais e credos. Então lá eu tive um aprendizado muito grande”, diz Keila.

Keila afirma que após receber o título Doutora Honoris Causa, deu um pouco mais de desafio porque começa a ser convidada para estar acompanhando bancas de doutorado.


A ativista ressalta que vivemos em um país desigual, que muitas pessoas são assassinadas de forma violenta, em sua maioria trans e negras, mas que temos hoje, simbolicamente importante e pela primeira vez, uma deputada federal negra, Erika Hilton.

“A gente está saindo de um processo bem cruel, de quatro anos de um governo que excitava violência, ódio e retaliação a todo momento para um processo muito mais aberto de diálogo, luta e inclusão” diz.

“A nossa percepção enquanto o travesti preta desse mundo é bem positiva no sentido de que nós vamos continuar atuando nós vamos continuar pautando o que a gente quer e precisa para que esse Brasil possa dizer igual para todos” destaca Keila.


Associação Nacional de Travestis e Transexuais

Keila relata que a ANTRA é uma rede que articula em todo o Brasil e foi fundada em 1993, desde então busca ser uma referência nacional na luta pela conquista da cidadania da população de travestis e transexuais.

“A ANTRA trabalha fortemente na temática de igualdade de gênero na defesa de todas as mulheres e não exatamente no contexto biologista de uma mulher genitalmente constituída. Mulher é uma questão de identificação, eu me reivindico mulher a sociedade deve me respeitar como tal. Temos batido muito nessa tecla da inclusão social, igualdade de gênero, da segurança pública que é extremamente importante”, afirma Keila.

A ativista ressalta que os dados que a associação possui sobre assassinatos de pessoas trans são subnotificados porque recebem informações de diversas fontes e não possui um programa oficial do governo que vá determinar de fato esses dados.

A presidente relata que a associação não recebe recursos financeiros para essas atuações. “A gente recebe apoio de recursos muito pontuais para executar algumas ações, mas são limitados”.


Fonte: Cultura

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