Travesti brasileira que protestou contra 'transfake' em peça de teatro em Portugal desaparece após ameaças

 



A travesti e ativista brasileira Keyla Brasil, conhecida por realizar performances nas ruas de Lisboa, está desaparecida desde a última sexta-feira (27), de acordo com a polícia local. Ela vinha recebendo ameaças desde que interrompeu uma peça de teatro para protestar contra um transfake.

A travesti e ativista brasileira Keyla Brasil, conhecida por realizar performances nas ruas de Lisboa, está desaparecida desde a última sexta-feira (27), de acordo com a polícia local. Ela vinha recebendo ameaças desde que interrompeu uma peça de teatro para protestar contra um transfake.

A denúncia sobre o desaparecimento de Keyla foi feita por integrantes da Casa T, uma organização sem fins lucrativos sediada em Lisboa que fornece abrigo e apoio para pessoas trans imigrantes. Pelas redes sociais, a entidade divulgou um apelo por informações sobre o paradeiro da travesti.

"Keyla é acolhida pela Casa T há cerca de um ano e faremos todos os esforços necessários para que ela volte a estar em segurança", informou o comunicado da organização. A polícia portuguesa investiga o caso.

Protesto

No último dia 19, Keyla Brasil invadiu o palco do teatro São Luiz, em Lisboa, durante a apresentação da peça Tudo Sobre Minha Mãe, adaptação do filme de mesmo nome do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.

A brasileira protestava contra um caso de transfake, termo usado quando atores cisgênero (pessoa que se reconhece no gênero de nascimento) interpretam personagens trans. Na peça, um ator cis foi escalado para fazer o papel da personagem Lola, uma mulher transexual.

"Transfake, desce do palco, tenha respeito por esse lugar" gritou Keyla Brasil ao interromper a peça, seminua. Em seguida, ela se apresentou ao público e justificou a ação, que foi coordenada com outros ativistas que davam apoio na plateia, com gritos e cartazes.

"Sou atriz, sou prostituta. O que está acontecendo agora é um assassinato, um apagamento da nossa identidade como travesti. Se contrataram quatro mulheres, três homens, por que não contratam duas pessoas trans para fazer a personagem?", disse Keyla.

O caso gerou muita repercussão no país, com inúmeras reações de apoio, mas também de condenação ao protesto. A peça foi suspensa até que a direção anunciou a substituição do ator por uma atriz transexual.

Ameaças

A partir daí, Keyla Brasil começou a receber uma série de ameaças e deixou Lisboa.
O jornalista Gian Amato, correspondente do jornal O Globo, a entrevistou por telefone na última quinta-feira (26). "Ela estava muito assustada. Não tinha sinal direito onde estava, precisava ir para um bar para conectar o wifi. Foi de lá que falou comigo da última vez", conta o jornalista, que tentou contato novamente com Keyla no dia seguinte, mas sem resposta.

Na entrevista, a travesti lembrou de outra brasileira vítima da intolerância em Portugal, a transexual Gisberta Salce Júnior, assassinada na cidade do Porto em 2006. Gisberta foi espancada durante três dias por um grupo de adolescentes. O corpo dela foi jogado em um poço.

O crime brutal chocou o país e é um marco na criação de leis e entidades voltadas para as questões de gênero. Existe um processo em andamento para batizar uma rua do Porto com o nome de Gisberta.

"Em 2021, 375 travestis foram mortas na Europa. A qualquer momento pode acontecer comigo", disse Keyla Brasil.

Fonte: UOL

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