Artista arrependida do voto em Bolsonaro arriscou a própria vida para garantir a liberdade de gays, lésbicas e afins
Morreu nesta segunda-feira (23), em São Paulo, a drag queen Kaká di Polly, ícone da noite e do ativismo LGBTQIAP+.
A artista escreveu seu nome na história dos direitos civis no Brasil ao deitar no asfalto da Avenida Paulista para impedir que policiais barrassem o pequeno grupo que fez a 1ª Parada Gay da cidade.
Sua atitude de enfrentar a repressão possibilitou que o evento acontecesse. Hoje, trata-se de uma das maiores manifestações pacíficas do planeta, com milhões de participantes a cada edição.
No cenário noturno, Kaká di Polly virou uma celebridade ao ser uma das primeiras drags do País. O fato de ser uma pessoa gorda ampliou ainda mais a importância de sua presença em espaços públicos.
Pela semelhança física e o mesmo destemor contra o conservadorismo pelo direito de existir, ela era comparada com a drag-atriz norte-americana Divine (1945-1988), imortalizada no clássico filme underground ‘Pink Flamingos’.
Sua representatividade inspirou e encorajou incontáveis homens cis e transexuais a também ‘se montar’ para se divertir ou atuar profissionalmente em shows e eventos. Foi uma desbravadora da sociedade em um tempo bem menos tolerante do que o atual.
Gradualmente, conseguiu o devido reconhecimento por sua atuação política e o talento artístico. Concedeu várias entrevistas na TV, inclusive no ‘Programa do Jô’, na Globo.
Em 2020, na edição virtual da Parada Gay, Kaká di Polly protestou por ter sido ignorada pela organização. Não recebeu convite para participar, provavelmente pela declaração de voto em Jair Bolsonaro na eleição de 2018.
“Eu não nego… Sim, votei nele. Estava cansada, esperando e acreditando em mudanças. Mas quem me segue de fato e não veio ao mundo para plantar sementes ruins, sabe muito bem que há algum tempo me arrependi do meu voto”, escreveu numa rede social.
Admirada e respeitada, a drag recuperou a credibilidade dentro da comunidade do arco-íris. Uma de suas últimas aparições públicas foi no início de dezembro, quando foi convidada VIP no concurso Miss Brasil Trans.
Poucos dias depois, acabou internada no Hospital São Camilo, no bairro do Ipiranga, para tratar alterações na saúde em consequência de um regime radical que a fez eliminar quase 30 quilos.
No último vídeo postado no Instagram, Kaká di Polly desmentiu fake news sobre ter alguma doença grave, desejou um feliz 2023 a todos e terminou a transmissão rezando um ‘Pai Nosso’.
Nascida Carlos Alberto Polycarpo, a drag queen lendária tinha 63 anos, era graduada em Psicologia e deixa seu companheiro.
Fonte: Terra
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