Se você maratonou "Inventando Ana", da Netflix,
recentemente, talvez já saiba quem é Laverne Cox. A atriz, uma mulher
transsexual negra, faz o papel da personal trainer das estrelas na série que
ganhou destaque por se tratar de uma história real. Mas sua carreira na atuação
começou muito antes disso. Não à toa, ela foi convidada pelo canal E! para
comandar o tapete vermelho do Oscar neste ano.
Nascida no Alabama, nos Estados Unidos, Laverne tem um irmão gêmeo
e percebeu no quarto ano escolar que havia algo de diferente em relação ao que
sentia e em como as pessoas a identificavam. De acordo com o site The
Towerlight, após imitar Scarlett O'Hara na sala de aula, sua mãe foi chamada na
escola e a levou para a terapia. Questionada se ela sabia a diferença entre
meninos e meninas, Laverne respondeu que não existia nenhuma.
"Sabia, em meu coração, minha alma e meu espírito que
eu era uma menina", diz. Quando chegou na puberdade, ela revela, rezava
todas as noites para não se tornar um homem.
Em sua jornada para se tornar a mulher de sucesso que é hoje,
porém, teve de enfrentar dores e dificuldades. A atriz revelou que sobreviveu a
uma tentativa de suícidio aos 11 anos, após o falecimento de sua avó, e viveu
diversas situações de racismo e preconceito.
Mas sabia onde queria chegar e comemorava cada pequena vitória,
mas ainda convivendo com as dores da transfobia. "Fui até o Harlem para
fazer minhas tranças em um daqueles locais geniais de tranças africanas. Eu
estava usando um vestido e empolgada por usar aquele gloss preto que eu
realmente não podia pagar, mas comprei mesmo assim com gorjetas do meu
trabalho. Isso foi apenas com dois anos da minha transição", contou ela na
publicação.
"Olho para esta foto e vejo uma jovem super fofa sentindo
isso. Mas, por baixo, me sentia o oposto de fofa. Pessoas me confundindo, me
chamando de homem e dizendo que eu parecia um homem me faziam sentir tão
insegura. Isso me impediu de me ver claramente e amar o que via. Olho para essa
jovem e quero dar a ela o amor que não sabia como naquela época. Não é tão
tarde. #TransÉLindo", concluiu na legenda da publicação.
Nos holofotes
Formanda na Escola de Belas Artes de Alabama em Birmingham, seu
primeiro papel de destaque na TV foi na série "Orange is the New
Black". A participação, inclusive, contou com a atuação de seu irmão
gêmeo, que fez o papel de sua personagem, Sophia Burset, antes que ela passasse
pela transição. Mas não foi fácil. Se já existem poucos papéis disponíveis em
Hollywood para mulheres negras, há menos ainda para mulheres negras e trans.
"Preciso trabalhar duas, três, quatro vezes mais duro.
Mas isso nunca me deu raiva. Eu aceitei que tenho que trabalhar mais",
disse Laverne em entrevista à "Forbes".
Sua
presença na série deu a ela mais voz para falar sobre a comunidade trans e
abriu portas para que conseguisse outros papéis. Em 2014, Laverne se tornou a
primeira mulher trans indicada ao Emmy, fazendo história mais uma vez. Desde
então, recebeu mais três indicações e, em 2020, criticou a academia pela
ausência de colegas trans na lista dos indicados.
O último papel de destaque de Laverne foi como a personal trainer
Kacy Duke em "Inventando Ana'', série baseada em fatos reais sobre uma
falsa herdeira que enganou a elite de Nova York. Em entrevista ao programa do
apresentador Jimmy Fallon, ela contou o que a própria Kacy achou de sua
atuação.
"Estava tão nervosa e ansiosa, pensando que, se ela odiasse a
atuação, seria terrível. Mas ela me mandou uma mensagem fofa e flores e disse
que eu arrasei. E uma de suas amigas fez um tuíte dizendo que conhece a Kate há
mais de 20 anos e que eu tinha acertado muito na atuação. E pensei: 'Era isso
que eu precisava'", contou.
Quebrou paradigmas
Laverne foi capa da revista "Forbes" e a primeira mulher
trans a ser capa da "Cosmopolitan". També foi a primeira mulher trans
indicada ao Emmy. Ela acumula conquistas para a comunidade LGBTQIA+ sem
esconder que adoraria que mais pessoas como ela tivessem as mesmas
oportunidades.
Tanto em suas redes sociais quanto em entrevistas, a atriz deixa
claro que vive ativamente na luta pelos direitos da comunidade e usa sua voz
para tentar fazer a diferença. Recentemente, quando foi aprovado um projeto de
lei no estado da Flórida, nos Estados Unidos, que proibia discussões LGBTQIA+
nas escolas e ainda obrigava a instituição a contar aos pais de um aluno caso
soubessem que o jovem era gay, Laverne usou as redes sociais para pedir à
comunidade que se unisse para derrubar a decisão, mandando mensagens para os
congressistas.
"Dizer que estou indignada e horrorizada não é o suficiente.
Os projetos de lei que foram aprovados recentemente na Flórida e no Texas são
um ataque à nossa comunidade e, mais importante, à juventude. Devemos criar um
espaço seguro para as crianças, guiá-las e ajudá-las durante esses anos
cruciais de formação", escreveu em seu Instagram.
"São leis como essas que enviam a mensagem às crianças LGBTQ+ de que há algo de errado com elas e isso lhes rouba a representação, a inclusão e os recursos que merecem. Só quero que minha família LBGTQ+ na Flórida e no Texas e em todo o mundo saiba que você é amado, e nós vamos ficar com você e por você."
Fonte: UOL
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