Uma
estudante trans, de 17 anos, denunciou ter sido vítima de transfobia dentro da
escola pública onde estuda, em Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife.
Michelly Almeida disse que foi impedida de utilizar o banheiro feminino da
unidade de ensino sob a justificativa de que é biologicamente um homem. Alunos
amigos da adolescente chamaram a atenção para o possível caso de discrimnação
em um protesto ontem.
O caso ocorreu
nas dependências da Erem (Escola de
Referência em Ensino Médio) Euridice Cadaval
Gomes, na última quarta-feira (27). A garota, que cursa o 3º ano, contou ao UOL que chegou
no centro de ensino, onde participaria de evento sobre religiões, no qual três
grupos se apresentariam representando a igreja evangélica, o catolicismo e o
candomblé. Como diz fazer desde o 1º ano, foi ao banheiro feminino se trocar
para dar início à sua apresentação.
Segundo
Michelly, ela foi instruída por funcionário administrativo a sair do banheiro,
sob o argumento de que a estudante é homem e não poderia estar ali. Aos gritos,
e sob os olhares de dezenas de pessoas, ela foi encaminhada à sala do diretor.
Eu sempre
uso o banheiro feminino, desde que entrei. Na gestão anterior, não houve
problema. As colegas não se sentem incomodadas. O funcionário ficou dizendo que
sou homem e que não está certo entrar naquele banheiro. E repeti várias vezes
que sou mulher e ele me chamando de homem, aos gritos.
De
acordo com a estudante, o diretor tentou "conscientizá-la" de seu
"erro".
"Repeti,
mais uma vez, que sou uma mulher trans, mas ele também disse que biologicamente
eu sou homem e que estava fazendo uma coisa errada. O diretor é evangélico.
Além desses absurdos que ouvi, ainda me suspendeu das atividades e impediu o
grupo representante do Candomblé de se apresentar. Isso é intolerância
religiosa", ressaltou Michelly.
A
adolescente contou que, ao sair da sala, caiu no choro. Ela, junto com a
família, está avaliando se levará o caso à Justiça. "Já estou sendo
auxiliada juridicamente e estamos vendo como proceder", destacou.
O
caso provocou revolta nos colegas de Michelly, que realizaram um ato na escola.
Ontem, os estudantes levaram cartazes pedindo que o direito da estudante trans
a ter acesso ao banheiro feminino seja respeitado.
O UOL tentou contato
com o diretor por meio dos telefones da unidade de ensino, mas não conseguiu
contato. Procurada, a Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco informou
ter tomado conhecimento das denúncias ocorridas na Erem e que abriu um processo
de investigação administrativa dos fatos.
"Uma
comissão da regional está acompanhando o caso e apurando com todos os
envolvidos. Além disso, a gestão da unidade de ensino marcou uma reunião com o
conselho escolar e os pais/responsáveis para tratar sobre estes assuntos na
próxima quarta-feira (3)", acrescentou o comunicado.
Para
Rildo Veras, presidente do Movimento LGBTQIA+ Leões do Norte, a falta de
respeito à diversidade ainda é uma situação corriqueira no ambiente escolar.
A escola
ainda não entende a diversidade de gênero. Mesmo a Secretaria de Educação tendo
uma Gerência de Direitos Humanos, mesmo depois de várias formações feitas com
professores. E essa escola, em vez de combater, acaba muitas vezes reproduzindo
as discriminações.
"Os
nomes sociais não são respeitados pelos professores, que alegam seguir o nome
de batismo, que consta na ficha. Vamos provocar mais uma vez a Secretaria de
Educação para a gente refletir ainda mais sobre esses abusos. Precisamos de
ações mais efetivas e mais constantes", argumentou.
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