Mulher trans radicada no Ceará participa do novo clipe de Kell Smith e Padre Fábio de Melo

Helena Vieira assina o roteiro e integra o elenco de "Vivendo", produção lançada nesta quinta-feira (30)




Nascida em São Paulo, mas residindo em Fortaleza há sete anos, a escritora, atriz, pesquisadora e ativista trans Helena Vieira participa do novo clipe de Kell Smith e Padre Fábio de Melo. A produção, intitulada "Vivendo", estará disponível na noite desta quinta-feira (30) no YouTube. 

Ao Verso, Helena explica que o convite para fazer parte da empreitada partiu de Kell Smith, intérprete do sucesso "Era uma vez". "Nos conhecemos por meio do Clubhouse (rede social de áudio). Um dia, ela me ligou para um outro trabalho e fomos mantendo contato, até que surgiu 'Vivendo', um projeto de muita importância", detalha a escritora.

Ela assina o roteiro e integra o elenco do clipe, cuja temática está vinculada à campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio. Vieira destaca a alegria da oportunidade de ingressar no trabalho, sobretudo por ele derivar da canção de uma amiga querida e pela participação de Padre Fábio de Melo. "Era uma forma também de atravessar um pouco as bolhas".


A música, segundo ela, é sobre seguir vivendo apesar das dificuldades. Também a respeito de contemplar um amanhecer que virá, os encontros. No roteiro, Helena optou por construir histórias comuns, desenvolvendo uma narrativa na qual diversas pessoas passassem por uma madrugada insone e chegassem a um amanhecer transformado pela música e pela arte. 

"Enfoquei na esperança. Os diálogos com a Kell Smith foram fundamentais nesse processo. Queríamos que o clipe dialogasse com os problemas cotidianos e as dores diárias. As questões de representatividade e pluralidade estiveram também no centro, na composição do elenco, na transformação na história. Isso foi um ponto central", sublinha.

VIVER, APESAR DO PRESENTE

Por sua vez, a participação da ativista no elenco da produção foi um pedido de Kell Smith. Nesse sentido, Helena situa que a vivência nas Artes Cênicas auxiliou bastante o processo. Ela faz parte da equipe do Outro Grupo de Teatro (CE/SP), fomentador de pesquisas envolvendo teatro, cinema, gênero e sexualidade.

"Sou uma figura tímida e os conselhos do meu colega de grupo, o Tavares Neto, me ajudaram muito a interpretar. O projeto completa 10 anos neste ano e a experiência de escrever a dramaturgia de 'Travestis na Ditadura' 'Psicopatia Sexualis', dois de nossos espetáculos mais novos, foi muito importante. Inclusive, logo estaremos em cartaz em São Paulo e RJ com ambas as peças", adianta.


Atualmente, Helena Vieira tem se dedicado à difusão de conhecimento por meio dos cursos on-line que ministra e igualmente está integrando uma rede de pensadoras advindas do canal “Pausa Para o Fim do Mundo". Além disso, já está trabalhando no próximo clipe de Kell Smith e, no teatro, se encontra com três processos em curso.

Recentemente, assumiu a Assessoria de Cultura para a Diversidade do Instituto Dragão do Mar e já anuncia: vem dois livros de sua autoria pela frente. "Enfim, tem sido um período muito cheio de potências e acontecimentos".

Não à toa, quando questionada sobre qual é a principal mensagem do clipe "Vivendo", ela não titubeia: "É seguir vivendo. Que apesar do presente, tem muita vida pra acontecer, muita vida pela frente".

POLÊMICA COM TRAVESTI

Participante da produção junto à Kell Smith, Padre Fábio de Melo se envolveu numa polêmica em 2015 relacionada à travesti Luana Muniz.

À época, depois de encontrá-la no aniversário da cantora Alcione – na quadra da escola de samba Mangueira, onde uma foto foi feita dele ao lado de Luana  – o religioso contou em uma palestra que teve receio da aproximação. E que, logo após posar com a travesti, soube que ela realizava um trabalho social na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro.


Em recente entrevista, o sacerdote voltou a comentar o caso. "Foi um ser humano que marcou minha vida. Eu tenho no meu celular algumas conversas tão bonitas onde nós falávamos da nossa vida, dos nossos pontos de vista tão diferentes. Mas nós convergíamos para um único ponto: o amor ao ser humano", disse, em depoimento inédito ao documentário "Filha da Lua", lançado no último dia 12 de agosto.

A amizade entre os dois foi interrompida com a morte de Luana, dois anos depois do primeiro encontro. 

Fonte: Diário do Nordeste



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