O Partido dos Trabalhadores anunciou na manhã de hoje que vai
abrir investigação sobre postagens da jornalista Patrícia Lélis, filiada ao
partido, com declarações transfóbicas, e aplicar as "normas estatutárias
cabíveis".
A decisão foi publicada em uma nota de repúdio após a jornalista
ter feito um vídeo em que afirma: "Em LA [Los Angeles] uma mulher trans
que estava no WI SPA, ao utilizar o banheiro feminino tirou suas calças e
mostrou seu pênis a outras mulheres e adolescentes que também estavam no banheiro".
E acrescentou: "Para explicar ainda mais: A
mulher trans foi ao banheiro feminino, fez suas necessidades no box privativo,
saiu da parte privada do banheiro e, no local do lavatório, tirou as calças e
mostrou o pênis a outras três mulheres que estavam no banheiro".
As declarações não foram bem recebidas pela
comunidade LGBTQIA+. O problema do post é Patrícia usar termos preconceituosos
para tratar de um caso isolado, explica a jornalista Sui Teixeira. Ao UOL,
Patrícia Lélis reiterou suas palavras, dizendo que foram tiradas de
contexto.
"Ela diz que falar sobre desigualdade de
gênero e violência de gênero está apagando a mulheres 'de verdade'. No post,
ela liga a questão de ser mulher com a questão da genitália, que é uma coisa
superada no feminismo há muito tempo", afirma
Sui.
"Se esse argumento é visto como normal, você
permite uma série de violências contra as pessoas trans", conclui.
Em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou
que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais devem ser
enquadrados no crime de racismo. Diferente da homofobia, direcionada à orientação
sexual de alguém, a transfobia é definida como o preconceito direcionado à
identidade de gênero pessoas trans. Ou seja, contra quem não se identifica com
o gênero atribuído no nascimento.
Partido repudia postagens
Pelo menos três vereadoras trans do PT entraram com
uma representação contra Patrícia Lélis no diretório estadual de São
Paulo, onde ela é filiada. O objetivo é fazer com que ela seja expulsa do
partido.
Uma vez instaurado, o processo será averiguado, diz
a secretária LGBT do Diretório Nacional do PT, Janaina Oliveira. Caso
seja determinado que ele seja procedente, ele será encaminhado para a comissão
de ética do PT, que fará a análise para a emissão de um posicionamento final.
Em nota assinada, o partido afirma que
"transfobia não é opinião, é crime": "Externamos nosso
repúdio às postagens publicadas por Patrícia Lélis e informamos que
vamos aplicar ao caso as normas estatutárias cabíveis, de forma a deixar claro
que o PT jamais compactuará com narrativas de ódio e preconceito como é a
transfobia".
Quando retiraram minha fala de
contexto principalmente sobre isso de 'ser mulher não é um sentimento', ficou
parecendo que eu sou uma pessoa que defende a morte das mulheres trans ou que
elas não tenham empregos e liberdade e não é nada disso. Eu, como mulher, só
acho complicado esse assunto de por exemplo, uso de banheiros."Patrícia Lélis
"A minha fala está publicada e não será
retirada. Ser mulher para mim não é um sentimento. Eu não consigo acreditar que
seja bom para a sociedade em um todo pensarmos que ser mulher é um
sentimento", afirmou Patrícia em texto enviado ao UOL.
Na nota, em que faz referências a nomes transexuais
do esporte, a jornalista afirma: "Questionar isso não me faz uma
conservadora de extrema direita religiosa, que odeia mulher trans, é apenas um
questionamento sobre sermos diferentes biologicamente".
"É impossível lutar pelos direitos e proteções
das pessoas do sexo feminino se negarmos que a diferença de sexo existe, ou que
isso importa, e ainda mais se insistirmos que a própria definição de mulher
deve ser reescrita para incluir os homens", diz o texto.
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