Sergipano trans é aprovado em 1º lugar em psicologia com nota do Enem: 'Quero ajudar pessoas que passaram pelo mesmo processo que eu'

 

Marshall de Araújo Lins, de 20 anos, se afastou da escola durante problemas com a família, fez Encceja e o Pré-Universitário da rede estadual para se preparar para o Enem.





O sonho de transformar realidades foi o que motivou o sergipano Marshall de Araújo Lins, de 20 anos, a cursar psicologia. Aprovado em 1º lugar na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através do Sisu, ele chegou a paralisar os estudos em 2018 por enfrentar problemas em casa, após assumir sua identidade trans.

"É uma área que eu acho que deveria ser mais procurada para entenderem como pessoas como eu são", disse o estudante.

Marshall era aluno do Instituto Federal de Sergipe (IFS), onde estudava o curso técnico em Química junto com o ensino médio, mas decidiu se afastar e precisou sair de casa. “Ficou um clima pesado na escola, ficou um clima pesado dentro de casa, e eu acabei saindo dos dois”, lembrou.

Fora da escola, Marshall se inscreveu e estudou para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja). Foi aprovado e, em seguida entrou para o Pré-Universitário da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura de Sergipe, no município da Barra dos Coqueiros, Região Metropolitana de Aracaju.

No ano passado, durante a pandemia do novo coronavírus, ele se reconectou à família e passou a trabalhar com ela vendendo artesanato no Centro de Aracaju. À noite, se dedicava às aulas. Este ano, fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pela primeira vez e tirou 880 na redação.


Além de ser aprovado na UFRN, ele ainda aguarda o resultado do processo seletivo para pessoas trans da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que será divulgado em 30 de abril. A expectativa é conseguir um auxílio para se manter no curso.

"[Quando formado] pretendo atender pessoas que passaram pelo mesmo processo que eu, e prevenir que coisas semelhantes aconteçam. Transmitir mais informações. Hoje a expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é 35 anos, o que não é uma coisa boa. Muitas pessoas acabam deixando de ir para a faculdade, largando as escolas", destacou.

O empenho dele foi reconhecido pela coordenadora do programa no município, Jucelene Alves Gomes. “Ano passado Marshall se apresentou no Polo de Barra dos Coqueiros pedindo uma oportunidade, e eu acreditei nesse jovem. Muito interessado, responsável e educadíssimo, ficou firme conosco em 2020 e hoje, graças a Deus, está colhendo os frutos, resultado de muita força de vontade e determinação”, disse a coordenadora.

Fonte: G1

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