Mulher trans que conseguiu proteção pela Lei Maria da Penha quer encorajar outras trans agredidas: 'Podemos denunciar'
Jovem foi arrastada pelos cabelos e levou socos no rosto do então namorado, em Rio Verde. Após conseguir medida protetiva, ela conseguiu que o ex saísse de casa: 'Agora posso dormir em paz'.
A jovem transexual que foi agredida pelo então namorado e conseguiu proteção pela Lei Maria da Penha, em Rio Verde, no sudoeste do estado, conta que criou coragem para denunciar as agressões após saber que uma amiga, também trans, havia conseguido medida protetiva. Agora, Shakira Costa do Nascimento, de 26 anos, decidiu compartilhar a própria história para incentivar outras trans a não esconderem os crimes.
Ela manteve um relacionamento com o suspeito, de 28, por quatro meses. Durante esse período, ela relata que foi ameaçada e agredida fisicamente em três ocasiões. Segundo a cuidadora de idosos, que utiliza nome social feminino, ela demorou a procurar ajuda, pois tinha medo de não ser resguardada pela lei.
“Eu não sabia se seria protegida pela Lei Maria da Penha, mas depois me inspirei na minha amiga que conseguiu e, agora, espero que outras mulheres trans se inspirem também. Nós podemos contar com a lei, podemos abrir a boca e denunciar”, diz Shakira.
A jovem conta que sentiu um alívio quando descobriu que a medida protetiva havia sido concedida pela juíza Coraci Pereira da Silva, titular da 2ª Vara de Família e Sucessões de Rio Verde, menos de dois dias após o pedido.
"Me ajudou muito como mulher trans e vai ajudar outras também. Agradeço muito à juíza, porque é uma dádiva. Já tem tanto preconceito com a gente, que isso é um privilégio. Uma proteção e o reconhecimento de ser mulher”, afirma.
Agressão
Durante a última agressão, que aconteceu em 16 de setembro, uma semana antes da denúncia, a jovem levou um golpe do ex-namorado, foi arrastada pelos cabelos e levou socos no rosto. Ele também tentou jogar uma garrafa nela, o que deixou vários cacos no chão. Ao ser arrastada, Shakira teve vários cortes na perna.
A jovem chegou a ficar internada um dia em um hospital da cidade para se recuperar. Apesar de as lesões já estarem quase cicatrizadas, o trauma permanece.
“É tão triste isso, ser espancada dentro de casa. Até hoje estou machucada por fora e por dentro”, relata.
O ex, que trabalha como servente de pedreiro, chegou a ser detido no dia das agressões, mas foi liberado pouco depois. Ele é investigado por violência doméstica.
Cicatrizes na perna de Shakira Costa, em Rio Verde, Goiás — Foto: Shakira Costa/Arquivo pessoal
Alívio
Shakira conta que o então namorado, que morava na casa dela, só aceitou deixar o local depois que ela conseguiu a medida protetiva, no dia 26 de setembro.
“Ele só saiu de casa depois da medida. Não queria aceitar o fim do relacionamento de jeito nenhum. Cansei de pedir para ele ir embora, mas ele não aceitava. Ele iria me machucar de novo se não fosse a medida”, afirma.
Desde que o ex-namorado saiu da casa onde ela mora, Shakira o bloqueou de todas as redes sociais, impedindo que ele tente fazer qualquer tipo de contato. Ele também está proibido de se aproximar de parentes e amigos da jovem.
Ela conta que, agora, consegue dormir tranquila, após meses vivendo com medo.
“Estou resguardada, agora posso dormir em paz, sem medo. Antes eu mal conseguia dormir, com medo que ele pudesse me machucar”, diz.
Marcas de cicatrizes após cortes na perna, em Rio Verde, Goiás — Foto: Shakira Costa/Arquivo pessoal
Comentários
Postar um comentário