Negro, sim! E com muito Orgulho.



Por Iyá Fernanda de Moraes

Nas primeiras horas de quinta-feira (01/04), durante uma conversa com algumas colegas de confinamento, no Big Brother Brasil, Babu Santana, único homem do reality show, fez uma explicação sobre o que ele próprio considera importante destacar entre os termos: negro e preto.

Na manhã seguinte, as redes sociais ganharam variados e inflamados discursos sobre a temática, recebido pela grande maioria das pessoas como se fosse uma “aula” sobre etnia racial.

Torço para ele seja o vencedor do reality e o respeito como ator e como parte integrante da população negra e das comunidades dos morros cariocas, e a sei que ele só quis informar e conscientizar não só as participantes, mas todas as pessoas que assistem e ficam cientes do que acontece no programa, no que se refere a questão racial. Mas, tenho discordância por sua fala.

Existe uma enorme confusão no Brasil sobre a questão racial e a palavra negro, sobretudo porque nos inspiramos por vezes nas falas e lutas da População Negra dos EUA. Porém existem inúmeras histórias sócio-culturais  dicotômicas entre o Brasil e os EUA. Uma palavra que em inglês norte americano pode soar como preconceituosa, aqui no Brasil serve para unificar a luta da população negra.

Exemplificando: o termo negro, tanto quanto a palavra preto e outras, no dito popular brasileiro, têm diversas nuances de extremo preconceito e estigma social. Mas, fizemos a ressignificação da palavra libertando-nos de um termo tóxico, pesado e negativo.

Escolhemos transformar uma experiência negativa, que foi a escravidão, em algo positivo. Não que a situação escravista no Brasil possa ser esquecida ou omitida, mas buscamos nessa situação, que foi bastante pesada e dolorosa, para a população negra, trazer o lado bom de tudo isso, bem como os aprendizados obtidos a partir de das vivências da negritude brasileira.

Encontramos nas adversidades forças e motivação para continuarmos lutando.

Não nos vitimizamos, mas assumimos o papel de protagonista da nossa própria história como população negra. Por meio palavra negro, foi de suprema importância, nas décadas atuais, a forma como transformamos e como unificamos a luta sobre essa questão étnico racial e contra o racismo. Então, foi a partir da palavra negro que conseguimos juntar pretos, e pardos, numa só luta.

Hoje em dia, muitas mulheres negras, de várias religiões, mesmo as de pele clara até a mais retintas, se assumem como tal e lutam de maneira unificada pelo movimento negro.

Poderíamos citar dar vários exemplos, contudo o que mais importa é que foi através da ressignificação da palavra negro que conseguimos colocar no censo estatístico e geográfico, a população parda e preta como NEGRA, no IBGE.

Conseguimos verificar que aquela faixa de 56% da população negra, é a grande maioria da população brasileira e que pudemos nos juntar. Sabemos que preta é uma cor, porém sabemos também que essa parcela da população brasileira é muito mais discriminada, assediada e assassinada, na escala do colorismo  preconceituoso que a sociedade criou. Porém, verificamos a importância que foi usar o termo para unir pretos de diversas cores na luta antirracista. O que difere, por exemplo, da luta nos EUA. Negro, para nós, tem a mesma força que os norte-americanos utilizam na palavra afro-americano, ou seja, toda aquela pessoa que tem uma gota de sangue negro é um afro-americano e a sociedade branca sabe muito bem identificar isso seja nos EUA, seja no Brasil.

A sociedade racista e preconceituosa sabe muito bem quem são os negros e pretos. Nós é que precisamos estar mais atentas e atentos a plenitude que a palavra Negro significa para nós!


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