Em um discurso carregado de emoção na tribuna da Câmara, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) protestou contra a atitude “preconceituosa e racista” do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) que destruiu uma placa sobre o genocídio negro nesta terça-feira (19). O painel com uma charge do artista Carlos Henrique Latuff de Sousa fazia parte da exposição na Câmara em comemoração ao Dia da Consciência Negra (20). “É a primeira vez que o racismo ousou nessa Casa, e ousou muito na nossa presença. Iremos tomar providências porque foi uma violência inaceitável, o presidente Rodrigo Maia terá que punir esse deputado, não podemos ser violentados desse jeito”, afirmou.
A deputada cobrou do presidente da Câmara a reposição do quadro arrancado e quebrado pelo Coronel Tadeu. “A Mesa tem que tomar uma providência, é uma exposição feita pela Curadoria da Câmara, é patrimônio público, foi dinheiro público que o deputado do PSL rasgou”. Benedita da Silva anunciou ainda que está tomando as providências cabíveis contra “aquele que veio como ladrão roubar a alegria do dia”.
Benedita da Silva, parlamentar negra que está em seu quinto mandato como deputada federal, que já foi deputada constituinte, senadora, ministra e governadora do Rio de Janeiro, fez um desabafo ao se dirigir diretamente ao Coronel Tadeu: “Saiba, Coronel Tadeu, a minha raça sobreviveu ao tronco e continua sofrendo quando vocês aqui votam contra o interesse dos negros e negras. Fomos estupradas, éramos objetos sexuais dos senhorzinhos, muitas vezes deixamos de alimentar os nossos filhos para alimentar os filhos das sinhazinhas. Mas em nós não existe ódio, queremos apenas os nossos direitos e os reivindicamos dentro do processo democrático”, enfatizou.
Chicote voltou
Para a deputada Benedita da Silva, a atitude do deputado Coronel Tadeu nesta tarde, foi como se ele tivesse dado um tapa na cara de cada negro e de cada negra desta Casa. “Fomos colocadas novamente no tronco. Veio o chicote e tirou da parede o que demonstrava naquela charge, a realidade de milhões e milhões de brasileiros. Somos 54 milhões de brasileiros, que lamentavelmente não estão representados nesse Legislativo”, desabafou.
Benedita da Silva relembrou a sua luta como deputada constituinte para assegurar na Carta Magna Cidadã de 88 os direitos das minorias. “Continuaremos lutando pelo nosso direito, fui uma constituinte, lá nós garantimos que tivéssemos direitos e aqueles que nos negam não passam de um grande racista. Nós sabemos conviver com os brancos, mesmo sendo por eles chicoteados”, ensinou.
Para a deputada do PT do Rio de Janeiro, as pessoas as vezes até argumentam que não são racistas porque uma negra já trabalhou como doméstica na sua casa. “Mas sabe quando nós descobrimos que somos racistas? É quando acontece uma cena lamentável como essa de hoje. O Coronel Tadeu se irritou, não suportou a realidade retratada no quadro. Então tira daquele quadro também os 80 tiros que foram disparados em uma só pessoa lá no Rio, retira do quadro quem matou Marielle Franco, retira quem matou a menina Agata”, desafiou Benedita.
Fonte: Blog do Esmael
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