‘Ela só queria ser feliz’, diz professor de transexual morta após ser espancada

Lorena Vicente, uma transexual negra de 23 anos, morreu após ser espancada no Jardim São Luís, na Zona Sul de São Paulo. De acordo com testemunhas, na segunda-feira (14) o tio de uma das amigas de Lorena a agrediu com socos por culpá-la pela overdose da sobrinha. A jovem morreu na terça-feira (15) em decorrência de um edema cerebral causado pelos golpes recebidos na cabeça.
Ver as imagens
Lorena Vicente, uma transexual negra de 23 anos, morreu após ser espancada na Zona Sul de São Paulo. - Foto: Acervo Pessoal
Lorena foi enterrada pelos familiares na quinta-feira (17), no Cemitério São Luís. O caso é investigado pelo pelo 92º Distrito Policial (DP). A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou em nota que “a autoridade policial busca por testemunhas e realiza diligências com objetivo de localizar o autor do crime”.
Lorena estava prestes a concluir o ensino médio por meio do programa Ensino Para Jovens e Adultos (EJA), na Escola Estadual Reverendo Jacques. A jovem, que gostava de escrever poesia e sonhava em ser médica, foi homenageada pelos professores da escola na quarta-feira (16). A deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP), defensora dos direitos da população LGBT, participou da ação.
Segundo o professor de história, Severino Honorato, Lorena era uma aluna dedicada e carinhosa. “Ela participava do sarau da escola, gostava de abraçar os professores e ouvia os nossos conselhos. Perdemos nossa Lorena, que só queria ser feliz”, conta.
Em 8 de novembro de 2017, o irmão de Lorena, Petherson Roberto dos Santos, de 24 anos, foi espancado até a morte ao tentar defendê-la das ameaças de Luiz Carlos Mariano, de 18 anos. O crime ocorreu em uma praça do Jardim São Luís, onde os irmãos haviam sentado em um banco para usar o wi-fi público.
Na época, a polícia considerou que o crime foi motivado por preconceito contra Lorena. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o autor do crime foi preso.
Morte de transexuais
Um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), feito em conjunto com o Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), aponta que 163 pessoas transexuais foram assassinadas no país em 2018. A maioria das vítimas eram travestis e mulheres trans (97%), negras (82%) e jovens de 17 a 29 anos (60,5%).
Os pesquisadores responsáveis pelo levantamento consideram que há uma subnotificação dos crimes praticados contra a população transexual. Isso significa que o número de assassinatos ocorridos no país é maior que o registrado devido à dificuldade de contabilizar os casos.
A gravidade da violência contra esse segmento da população no país é revelado também por um levantamento da ONG Transgender Europe (TGEU). Pelo menos 868 travestis e transexuais foram mortos no Brasil entre janeiro de 2008 e julho de 2016. O número é o triplo do registrado no México (256) e coloca o país no topo do ranking de países com o maior índice de homicídios de pessoas transgêneras, atrás apenas de Honduras, Guiana e El Salvador.
No estado de São Paulo, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou realizar diversas ações para combater os crimes contra os LGBTs.
“Além da Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi), do DHPP, todas as unidades policiais estão aptas a registrar ocorrências dessa natureza. Desde novembro de 2015, é possível colocar o nome social e a indicação de motivação da infração de casos de homofobia e transfobia nos registros de ocorrência. Todas as circunstâncias relativas aos fatos descritos nos BO’s [boletins de ocorrência] são apuradas ao longo das investigações e, ao término do trabalho de polícia judiciária, relatadas à Justiça conforme determina a lei”, diz nota enviada pelo órgão ao Alma Preta.
Fonte: Yahoo

Comentários